sábado, 12 de maio de 2012



in memoriam:  BERNARDO SASSETTI


Morreu um grande amigo e 
um músico imortal...  


TESTEMUNHOS  in "Público", 11.05.2

Mário Laginha, pianista e compositor: “Eu perdi um amigo, mas todos perdemos um músico portentoso, com um talento imenso que transbordava a todos os momentos, em todos os géneros. O Bernardo era um ser humano incrível e, como músico e compositor não tinha pontos fracos. Tudo nele era de uma grande riqueza: a melodia, a harmonia, o ritmo, a espontaneidade, a inspiração no acto de compor e de improvisar. O defeito dele era ter tantos talentos. 
Estar em palco com o Bernardo era incrível. A única certeza que tínhamos ao entrar era a de que não havia certeza nenhuma. Nada era igual quando ele se sentava ao piano. Fizemos três discos juntos e eu não consigo escolher um. Era um amigo especial, um músico especial.

Pedro Burmester, pianista: “O Bernardo não morre”. Era uma daquelas “pessoas raras que conhecem e sentem muitos mistérios do mundo”. “Em cada palavra, acto e, de uma forma esmagadora, na sua música e no seu tocar piano o Bernardo dizia coisas que mais ninguém disse nem voltará a dizer.” “É uma perda irreparável.” “É um músico imortal.”

Pedro Boléo, crítico de música clássica: “O Bernardo Sassetti era um daqueles músicos que se recusa a meter as coisas em gavetas. Quando olhamos para o seu percurso, vemos que não fez distinções e deu tanta importância à clássica, como ao jazz e à música popular. Basta olhar para o seu trabalho dos três pianos ou o projecto a partir do Zeca Afonso. O Bernardo Sassetti levava a sua formação clássica para dentro do jazz de forma muito criativa. E não era um purista, no sentido de que não separava as actividades, nem as músicas, nem via vantagem nenhuma em enfiar os géneros em caixas estanques. Interessava-se verdadeiramente pela rugosidade da música, das pessoas e do mundo. Mesmo quando se tornou famoso, dentro e fora do país, manteve sempre uma disponibilidade enorme. Lembro-me de o convidar para ir à universidade onde era aluno nos anos 90 e de ele ter chegado muito à vontade, com aquela sua postura de amigo da música e de amigo dos outros. Tocou à borla, num piano qualquer e ainda ficou a conversar. Pianistas talentosos há muitos, mas com a postura do Bernardo Sassetti há certamente muito poucos. Compôs para os outros com grande generosidade e podia tocar Bach, Zeca e Thelonious Monk todos juntos porque conhecia a fundo a sua música e, como intérprete, sabia dominá-los bem. A única coisa que queria da música era a música e sempre que compunha ou tocava, mesmo quando sentíamos ali alguma nostalgia, havia muita alegria, muito gozo.

Marco Martins, realizador: “Era, na minha opinião, o maior compositor de música contemporânea portuguesa e um ser humano verdadeiramente extraordinário com quem se podia partilhar muitas e muitas aventuras, dentro e fora dos projetos que fazíamos juntos, e era de facto um génio impossível”. “É um momento de uma dor muito profunda e uma perda sem sentido”.

Sérgio Godinho, músico: Bernardo Sassetti foi “um músico superior”, “absolutamente cativante”, “completamente desperto para a vida e para as artes”, “que queria fazer muitas outras coisas e crescer sempre”. O compositor e pianista tinha “um entusiasmo infantil – infantil no sentido mais nobre da ingenuidade, de pureza”, na forma como encarava a música. “Tínhamos uma grande admiração musical e era uma pessoa que, em termos humanos, era absolutamente cativante. É tão triste que uma pessoa com aquela energia de viver morra”.

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